Os Elos Do Passado
Nos meus 50 anos de idade dentro das passagens que a vida me
deu sempre cultivei boas amizades, pessoas de boa índole que me são motivo de
orgulho, graças a Deus sempre tive a
felicidade de escolher amigos que apesar da mão do tempo nos ter dado cartas diferentes
e traçado rumos divergentes ainda assim fazemos parte do mesmo baralho.
Algumas destas pessoas há muito tempo tento localizar, uma se chama Sérgio Lacerda, convivemos por um
longo tempo juntos, fui subordinado a ele em uma das empresas que trabalhei.
Ele era de uma generosidade rara, não media sacrifício para
ajudar seus semelhantes, como dizíamos “uma mãe brasileira” um ser humano na
mais humana das condições, grande e querido amigo.
Andava sempre pilchado de bota e bombacha, um shimitd 38 na
cintura,
(tinha porte e registro) mas não sabia fazer mal a uma mosca
sequer.
Nos vinte e poucos anos que se passaram eu não soube mais
nada dele,
não foram poucas as vezes que tive vontade de procurá-lo, mas
nunca havia destinado tempo para isto.
No Sábado dia 20 de Setembro de 2014 saímos de Guaíba eu e o Eliézer,
nosso destino era Charqueadas, íamos procurar
a carta extraviada do baralho, fomos sem saber direito onde, eu só lembrava que
ele comentou certa vez que morava perto de um hospital.
Chegamos a Charqueadas e em um “boteco” perguntamos se alguém o conhecia, mas não
tivemos sorte, seguimos adiante até o hospital da localidade e em uma oficina mecânica
perguntamos novamente, a pessoa que nos atendeu indicou o local onde alguém com
as descrições dele morava, andamos um pouco por lá e perguntamos novamente e
outra pessoa confirmou.
Ao chegar a casa ele estava saindo no portão, o reconheci na hora,
paramos as motocicletas e eu disse; “vim te cobrar seu caloteiro, tu me deve e
vai pagar” ele olhou espantado, não me
reconheceu, cheguei perto e me
identifiquei, ele ficou meio pasmo,
nunca esperava me ver de cabelos grisalhos e cinqüentenário, abriu um grande
sorriso e já foi puxando umas cadeiras para sentarmos.
Conversamos por horas, ele me relatou dos golpes que a vida lhe
deu, confesso, houve momentos que tive
vontade de chorar.
Contou-me ele sobre as decepções da sua vida, e não foram
poucas, hoje aposentado vive sozinho numa casa humilde depois de ter trabalhado
tanto, é difícil aceitar que uma pessoa de coração tão puro e bom tenha tido
tantos percalços pelo caminho.
Lembramos velhos amigos e muitas histórias esquecidas nalgum
recanto da memória.
O tempo cobrou os juros
na conta da vida e nos fez mais velhos, mas com muito mais experiência também.
Fiquei feliz por telo encontrado, trocamos telefones e
pretendo visitá-lo novamente em breve.
Ainda tenho bons amigos perdidos pelo mundo, mas pretendo “resgatá-los”
assim que puder, se Deus me permitir e me der saúde para tanto.
Eu e o Sergio Lacerda, vinte anos mais velhos.
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